miércoles, 15 de septiembre de 2010


"Los Padres Terribles" (Uruguai)/ Sala Carlos Carvalho -



"Uma família disfuncional através do olhar ácido do genial cineasta e dramaturgo francês Jean Cocteau (1889-1963). Infidelidade, ciúme e confusão de identidades se misturam para criar uma farsa feroz e hilariante. Quando parece que todas as peças poderiam se encaixar, uma decisão drástica deixa cada um dos personagens frente a frente consigo mesmos, com suas loucuras."
Os meus 8 leitores sabem da minha simpatia e do meu carinho pelo teatro uruguaio e lá fui eu assistir "Los Padres Terribles", correndo, depois do meu útlimo dia de oficina com a Marta Isaacsson. Bem, o que vi em cena me gustó mucho, o diretor Alberto Zimberg opta por uma construção de um teatro de vaudeville onde o ritmo é frenético e as atuações, em muitas vezes , histriônicas. O cenário é simples e funcional e nos faz participar efetivamente de tudo o que acontece naquele quarto. Os atores estão nuito bem em seus personagens, e nas situações absurdas que passam, fazendo com que o jogo cênico nos prenda a atenção e nos faça rir com eles, deles e de nós mesmos em diversos momentos. Quero destacar aqui a atuação de Carla Moscatelli, a tia Leo. Desde o primeiro momento em que aparece ela toma conta da cena, com sua voz, com sua postura cênica, com sua energia, com sua presença. Uma brilhante atriz em todos os sentidos.
Talvez a partir de "Los Padres Terribles" as pessoas parem de tachar o teatro uruguaio de ultrapassado e passem a entender que o fazer teatral é livre de etiquetas e que cada um é cada um, faz a sua arte com verdade e paixão, e isso é o que importa.

Em casa, estamos todos loucos.
(fala do personagem Miguel – o filho)A convite da organização do 17º Porto Alegre em Cena fui convidado para assistir e após comentar o espetáculo uruguaio Los padres terribles, de Jean Cocteau, na Sala Carlos Carvalho da C.C.M.Q..As portas do teatro abrem 15 minutos antes do início, a fila anda e consigo um bom lugar na terceira fila. Começa aquele burburinho maravilhoso que só quem é do teatro sabe o valor que tem. O público conversando, cheio de expectativas, curiosidades... Próximo do início da peça, chama-me a atenção, e a de algumas pessoas próximas, uma conversa (discussão) bem calorosa, na primeira fila, de uma família de quatro integrantes. Pensei: será que já começou? Não é em castelhano? Era uma outra família, que discutia com os filhos sobre as compras dos ingressos para os outros espetáculos. Os pais discordavam das escolhas feitas.Felizmente, a luz diminui e aos acordes da trilha iniciam pontualmente o espetáculo.Mesmo prestes a completar 72 anos de sua criação,este texto de Jean Cocteau é extremamente contemporâneo na sua temática.O amor edipiano de uma mãe completamente enlouquecida por seu filho, esse às raias da infantilidade no auge dos seus 22 anos. Um pai preocupado com suas invenções e uma “tia” que manipula tudo e todos . No decorrer dos conflitos, surge a noiva do filho, também surreal.Surreal como seu autor e por que não dizer do diretor Alberto Zimberg, que é correto em manter o ritmo da encenação e, também, pelo ótimo desempenho do elenco, que joga, com segurança, neste emaranhado universo íntimo familiar, seus segredos inconfessáveis e suas crises de identidade.O jogo cênico é histriônico e hipnotizante, muitas vezes pelas situações absurdas que as personagens passam. Levam o público a serem cúmplices daquele quarto onde tudo acontece.Tudo funciona bem, um cenário simples e muito bem solucionado, com a transformação em outro ambiente. O emaranhado de fios e nós que compõem a cabeceira da grande cama nos remete à trajetória distorcida dos relacionamentos. Um figurino também de acordo e elegante com a proposta. Vale ressaltar a trilha sonora do grupo Ojos Del Cielo que soma-se ao trabalho, bem como a iluminação pontuada.O ponto alto do espetáculo é a interpretação dos atores. Destaco o naipe feminino, muito bem trabalhado nos seus respectivos universos. A atriz Carla Moscatelli é brilhante. Com uma voz majestosa, surpreende a todo momento. A personagem ajuda o seu desempenho, pois é o fio condutor de todas as ambigüidades desta família.Enfim, ter a oportunidade de ver um Cocteau em nossa capital é um privilégio que só o Festival proporciona. Certamente, devemos aproveitá-la .Ah! Aquela família do início saiu bem quietinha do teatro.
Paulo Guerra
*Diretor e produtor da Cia Halarde de Teatro que este ano completa 20 anos de existência. É a única Cia. do sul da cidade a conquistar sete Troféus Tibicuera de Produção. Atualmente, estão em atividades: o espetáculo infantil “Chapeuzinho Amarelo” e o espetáculo adulto “Dona Gorda”, um grande sucesso que, há oito anos, circula na capital e interior do Estado.

Teatro: diretor e atores

Outro dia participei de uma discussão sobre dramaturgia e trilha sonora em função do Troféu Açorianos 2010. Para mim, esses dois itens se aproximam enquanto esferas da mesma polêmica: música/texto feito especialmente para a montagem ou já existente antes dela. O costume é só premiar as trilhas sonoras feitas especialmente para os espetáculos. E os textos só são considerados se forem escritos por pessoas da cidade. Não parece estranho? A mim, sim. E afirmo o que penso: quando o escritor escreve o texto e quando o compositor escreve a música, seja lá onde for, em que computador ou piano for, isso não é fazer teatro. É fazer literatura. É fazer música. Ou o figurinista com os tecidos e o cenógrafo com o martelo e o iluminador com a gelatina. Também não fazem teatro, mas, sim, artes visuais, plásticas. Só quem faz teatro é o diretor/coreógrafo e ator/bailarino. Todo o resto ajuda, auxilia, se envolve na produção e são bem-vindos. Mas sou da opinião de que, na hora H, só sobram esses: o diretor e os atores. Jean Cocteau escreveu Los padres terribles nos anos 30 e tenho a impressão de que ele não previa a existência de Alberto Zimberg e de seus atores uruguaios. Também não do 17º Porto Alegre em Cena infelizmente. O texto, assim como todos os elementos, foram colhidos pela produção para produzir um espetáculo. E Zimberg não apenas pegou o texto e o colocou na boca dos atores, mas o fez do seu jeito, e, nisso, repito uma cantilena que qualquer pessoa de teatro sabe: ao atualizar literatura para o teatro, os sentidos se modificam, pois ganham novas forças. O mesmo texto numa produção outra seria diferente. O mesmo com as músicas, com as cores, com o desenho da interpretação. Então, vejamos o que está nessa montagem: o melodrama latino. Emoções over, cores fortes, movimentos rápidos. Os atores variam o tom de voz muito rapidamente, as cores da maquiagem, dos figurinos e do cenário são exploradas ao máximo (rosa, laranja, vinho, verde,...), os movimentos são grandiosos (jogam-se na cama, batem-se, entram e saem, nem sempre com sentido exposto,...). Tudo é carregado e a comédia está nesse ponto: rimos da loucura a que chegou essa família, uma como outra qualquer, mas, agora, vista sob lente de aumento. Todas as interpretações seguem a mesma ordem num exemplo de coerência que converge a história para o seu centro: o filho de 22 anos vai se casar com amante do próprio pai, para o horror da mãe que ama o filho mais do que qualquer outra mãe, e para a glória da tia que ama o cunhado mais do que qualquer outra cunhada. Texto, cores, sons talvez já existissem além da narrativa, mas, aqui, sob os olhos de Zimberg e de seus atores, foram postos a convergir e a engrandecer o projeto a que assistimos nesse Festival. Não se trata de Cocteau, não se trata do verde que também é a cor de um blusão meu, nem de uma música que, talvez, eu já tenha ouvido. Mas se trata de Los padres terribles, um espetáculo que faz rir, que agrada e que aumenta o prestígio desse evento tão querido a todos os gaúchos. E, para terminar, me pergunto se o fato da última cena cansar o espectador seja culpa do dramaturgo ou do diretor. Explico: são três cenas: no quarto dos pais de Miguel (o filho), na casa de Madalena (a noiva) e, novamente, em casa de Miguel. Na segunda cena, tantas coisas acontecem, tantos gritos, brigas, tapas e correria, além do laranja fortíssimo da cama. Pouco sobra para fazer na cena final. O ápice, nesse jeito tão aristotélico que Zimberg optou, vem antes do fim, um pouco antes demais. A última cena, tão boa quanto a primeira, parece se arrastar mais do que deveria em função da sensação de cansaço que sentimos, tanto rimos no momento anterior da história. Como não costumo levar textos dramáticos para ler nas plateias de teatro, não tenho dúvidas: o ponto negativo e todos os muitos pontos positivos são todos culpa e mérito de Zimberg e seu grande elenco. Viva, por isso, o teatro!


*Rodrigo Monteiro: Licenciado em Letras - Português/Inglês pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos.Bacharel em Comunicação Social - Habilitação Realização Audiovisual pela mesma universidade. E mestrando em Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Jurado do Troféu Açorianos de Teatro 2010 e, também, do Troféu Braskem 2010, é autor do blog www.teatropoa.blogspot.com de Crítica Teatral de Porto Alegre





En PORTO ALEGRE EN ESCENA - SETIEMBRE 2010



















Foto: Guilherme Santos/PMPA


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